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O ano de 2024 é histórico pois marca o início da vacinação contra a dengue pelo SUS. É unanimidade, ou pelo menos deveria ser, que a principal forma de nos protegermos contra novas doenças é utilizando as vacinas. Doenças com altas taxas de mortalidade já chegaram a assolar nosso país, caso da poliomielite e do sarampo, que acabaram por ser praticamente erradicadas com as campanhas de vacinação. A dengue é uma doença sem medicamento específico no seu combate e de difícil prevenção já que envolve a transmissão por meio do mosquito aedes aegypti. E aí, vamos nos vacinar? Dá uma conferida no texto para saber mais sobre os imunizantes e conhecer o público alvo!

Antes, vamos falar um pouco sobre a dengue. É uma doença com sintomas inespecíficos, como febre e dor no corpo, e que pode se apresentar de forma leve ou grave, a chamada dengue hemorrágica. O desenvolvimento desses quadros depende de vários fatores como infecção prévia, com qual cepa viral você foi infectado, além de condições de saúde como presença de diabetes, asma e outros. Em 2023 o Brasil apresentou mais de 1,6 milhão de casos prováveis de dengue, de acordo com o Ministério da Saúde [01], e em menos de 03 meses em 2024 o número de casos prováveis passa de 02 milhões [02].

Atualmente, à exceção das vacinas, as principais formas de proteção contra a dengue são as campanhas para conter a proliferação do aedes aegypti, focadas em meios publicitários e de conscientização em escolas e afins. Infelizmente não há um antiviral contra o vírus da dengue para pessoas doentes, sendo o tratamento basicamente com remédios sintomáticos e bastante hidratação.

Figura 01: Exemplo de campanha publicitária contra o aedes aegypti

Fonte: Ministério da Saúde

#PraCegoVer: imagem publicitária do Ministério da Saúde com a frase principal “se o mosquito da dengue pode matar, ele não pode nascer”. Há um jarro de planta com a colocação de areia numa parte em que poderia acumular água, além de instruções sobre como evitar a proliferação do mosquito.

Em meio a esse contexto de difícil prevenção da doença e uma falta de medicamento específico, o melhor caminho seria o desenvolvimento de uma vacina. Diferentemente da corrida para um imunizante contra o coronavírus em 2020, uma vacina contra a dengue não tem o mesmo apelo, até porque é uma doença incidente em países tropicais, geralmente mais pobres. Entretanto, à revelia disso tudo, temos dois imunizantes que foram aprovados pela Anvisa, um da empresa Sanofi-Pasteur e outro, mais recente, da empresa Takeda Pharma [03].

A primeira vacina contra a dengue foi aprovada no Brasil em dezembro de 2015 e corresponde à Dengvaxia, da empresa Sanofi-Pasteur, que é indicada para pessoas entre 09 e 15 anos com um esquema de 03 doses do imunizante. Essa vacina utiliza DNA recombinante das 04 cepas virais da dengue e, como consta no parecer técnico da Anvisa, passou pelos testes de segurança preconizados. Em 2022, após 05 anos de  vigilância, a Anvisa alterou a bula da vacina para indicação apenas em pessoas soropositivas para a dengue, ou seja, quem já teve a doença, contraindicado em pessoas soronegativas. Essa recomendação se deu pois viu-se que, nessas últimas, as chances de hospitalizações e casos graves após contrair a doença aumentaram nessa população após a vacina [04]. 

O outro imunizante contra a dengue aprovado no Brasil é a vacina Qdenga, da empresa Takeda Pharma, aprovada em março de 2023 pela Anvisa. Ela tem um indicação mais ampla que a anterior, dos 04 aos 60 anos, e o esquema vacinal se dá com 02 doses com intervalo de 90 dias entre as doses. Essa vacina também foi feita com DNA recombinante com as 04 cepas do vírus da dengue. Apesar de sua eficácia ter sido maior dentre as cepas 01 e 02, que inclusive são as que mais circulam no Brasil, a eficácia global é significativa de 80,2%. Os dados de segurança não indicam contraindicações como as da Dengvaxia, sendo a vacinação ainda não extrapolada para os extremos das idades devido aos estudos feitos com adolescentes e pessoas de meia idade [05].

Imagem 02: Caixas de ambos os imunizantes, Qdenga e Dengvaxia

Fonte: G1

#PraCegoVer: imagem com as duas caixas dos imunizantes aprovados no Brasil contra a dengue. No primeiro plano tem-se a caixa da Qdenga e ao fundo, desfocada, a caixa da Dengvaxia.

A grande novidade que temos em 2024 é que a vacina Qdenga foi incorporada ao PNI devido a alta incidência da dengue no Brasil em 2024. A faixa etária nesse primeiro período de administração é de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. O imunizante está, desde a aprovação pela Anvisa em março de 2023, disponível na rede privada, entretanto é possível que você não o encontre em estoque pois a farmacêutica fabricante pretende priorizar todo seu estoque para atender o Ministério da Saúde [06].

Ademais, fiquemos confiantes com uma vacina nacional nos próximos anos, já que o Instituto Butantan vem desenvolvendo uma vacina contra a dengue com expectativas de divulgação do resultado do estudo de fase 03 para 2024, o que seria mais um reforço no combate contra a dengue [07]. 

Por fim, como visto, a dengue não é uma doença de tratamento fácil e as medidas de prevenção não são seguidas de maneira satisfatória, assim, se você tem entre 10 e 14 anos ou conhece pessoas com essa faixa etária, procure o posto mais próximo para aplicação da vacina! E continuemos com as medidas de prevenção contra o mosquito que, mesmo sendo um trabalho chato, ajuda e muito no combate à dengue.

Referências

1. Ministério da Saúde. Série histórica - Casos prováveis de dengue - (2000-2023) - Atualizado em 12/01/2024. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/dengue/situacao-epidemiologica/serie-historica-casos-provaveis-de-dengue-2000-2023/view. Acesso em 24/03/2024. 
2. G1. Brasil supera a marca de 2 milhões de casos de dengue em 2024 e registra 682 mortes. https://g1.globo.com/saude/dengue/noticia/2024/03/22/brasil-supera-a-marca-de-2-milhoes-de-casos-de-dengue.ghtml. Acesso em 24/03/2024. 
3. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Anvisa aprova nova vacina contra a dengue. https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2023/anvisa-aprova-nova-vacina-para-a-dengue. Acesso em: 04/07/2023.
4. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Vacina da dengue terá alteração de bula. https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2018/vacina-da-dengue-tera-alteracao-de-bula. Acesso em: 04/07/2023.
5. SBIm. Nota Técnica SBIm/SBI/SBMT: vacina dengue quadrivalente atenuada (QDENGA®). https://sbim.org.br/noticias/1800-nota-tecnica-sbim-sbi-sbmt-vacina-dengue-quadrivalente-atenuada-qdenga. Acesso em: 04/07/2023.
6. CNN Brasil. Saiba quem pode tomar, quanto custa e contraindicações de vacina da dengue na rede particular. https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/saiba-quem-pode-tomar-quanto-custa-e-contraindicacoes-de-vacina-da-dengue-na-rede-particular/. Acesso em 24/03/2024. 
7. Portal Drauzio Varella. Vacina da dengue: quem pode tomar e onde encontrar. https://drauziovarella.uol.com.br/vacinas-2/vacina-da-dengue-quem-pode-tomar-e-onde-encontrar/. Acesso em : 04/07/2023.